08/11/2014 11h37 - Atualizado em 08/11/2014 11h37

No AC, estudantes sabatistas defendem mudança no Enem

'A gente fica muito desfavorecido em relação a outras pessoas', diz estudante.
Candidatos do Acre serão os últimos a realizar o exame no país.

Yuri MarcelDo G1 AC

Ketory Géssica, de 16 anos, acredita que realização do exame no sábado (8) é injusta com candidatos sabatistas (Foto: Yuri Marcel/G1)Ketory Géssica, de 16 anos, acredita que realização do exame no sábado (8) é injusta com candidatos sabatistas (Foto: Yuri Marcel/G1)

O nervosismo e a pressão costumam ser normais para estudantes que realizam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujas provas acontecem neste sábado (8) e domingo (9). No entanto, para um grupo de estudantes sabatistas no Acre, que por questão religiosa guarda os sábados], a situação pode ganhar proporções ainda maiores, já que eles devem chegar junto com os outros candidatos ao local das provas, às 10h (13h horário de Brasília), mas só iniciarão o exame após o pôr do Sol.

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Estudante do 2º ano do ensino médio, Ketory Géssica da Rocha Ferreira, de 16 anos, resolveu fazer o Enem pela primeira vez. Ela já sabe que terá que esperar nove horas até poder começar a fazer a prova, marcada para começar às 19h (23h horário de Brasília) e acha que a realização da prova no sábado é injusta.

 

"É meio que falta de respeito. Acho que deveriam mudar o dia, porque para nós sabatistas, o sábado é um dia muito especial e fica difícil para nós decidirmos uma coisa tão importante como o Enem no sábado", diz.

A estudante defende ainda a mudança do exame de sábado e domingo para domingo e segunda. "Acho que não teria problema", comenta.

Amiga dela, a estudante Bárbara Sheli Silva de Paula, também de 16 anos, concorda com a amiga. Em 2013, ela já havia feito o Enem e conta que foi uma experiência exaustiva, mas que valeu a pena por ela não ter tido que romper com seus princípios religiosos.

"Para mim o mais importante foi fazer a prova do Enem, mas guardando o sábado. Não fugindo dos princípios da lei de Deus. Foi uma experiência muito cansativa, as pessoas não tem noção de como é o cansaço, não só físico, mas também psicológico. A gente fica muito desfavorecido em relação a outras pessoas", explica.

Já que ao menos por enquanto não é possível mudar a data da prova, as duas amigas planejam o que farão no tempo em que ficarão esperando. "Nos sábados normais a gente vai à igreja, então o jeito vai ser ficar em oração, para dar forças também. Porque não vai dar para ficar trancada todo esse tempo", comenta Ketory.

"Esse ano estou me preparando com uns lanchinhos porque o tempo é grande, mas tudo é uma prova de fé e vale a pena", ressalta Bárbara.

Estudantes sabatistas terão que esperar durante nove horas para começar a fazer Enem, neste sábado (8) (Foto: Yuri Marcel/G1)Estudantes sabatistas terão que esperar durante
nove horas para começar a fazer Enem, neste
sábado (8) (Foto: Yuri Marcel/G1)

Prejuízo psicológico
Diretora do colégio em que as duas jovens sabatistas estudam, Anamim Almeida conta que já atua na rede de ensino adventista há 14 anos e, segundo ela, desde o surgimento do Enem, as dificuldades são significativas para os alunos que seguem as doutrinas que guardam os sábados.

"Em muitas situações os sabatistas, ou seja, as pessoas que guardam o sábado, um grupo religioso que não inclui apenas os adventistas do sétimo dia, acabam tendo esse prejuízo psicológico por culpa da crença, por culpa da fé", argumenta.

De acordo com ela, para tentar amenizar o quadro, a escola que ela dirige resolveu fazer um acompanhamento especial para que os alunos estejam preparados para o Enem e as horas de espera.

Anamim explica ainda que segundo a bíblia, o sábado é o dia que Deus solicitou que fosse guardado e por isso não é possível que os candidatos transgridam a regra por apenas um dia. "O sábado não é da igreja e nem do pastor. É um compromisso eterno de Deus com seu povo e ponto final", explica.

Entenda o caso
Ao todo 69.396 candidatos solicitaram atendimento especial por causa da religião em todo o Brasil. Candidatos que seguem religiões que guardam os sábados, como o judaísmo, adventismo e batistas do sétimo dia chegam aos locais de prova no mesmo horário dos outros alunos (13h do horário de Brasília) e ficam em confinamento até o pôr do sol, quando começam a fazer o exame.

 

 

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